quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

do custo da filha-da-putice III

Outro dia saiu uma manchete no jornal dizendo que a violência custa um determinado número de milhões de reais por ano. Qualquer que seja este número, que eu não lembro, é mentira. OK, um engano. Pra baixo. Não vi como se chegou a esse número, mas o custo da violência não passa pela ordem de grandeza 10 elevado à sexta. É muito mais. Já comentamos sobre o imenso aparato que é necessário construir para proteger a vida em sociedade de meia dúzia de fdp. O que falta comentar é a não menos imensa indústria que cria esse aparato e a quantidade de empregos que gera, de tal maneira que a falta absoluta (hipotética) de violência causaria desemprego maciço, caos total, falência das máfias, enfim, a queda de todo um mercado poderosíssimo, que, cronificado, se torna parte da vida em sociedade. Isso se pensarmos só na violência direta, como tráfico de drogas, comércio de armas, de cds de funk e outros produtos prejudiciais à saúde, legais ou não. Se formos mais além, imaginando o fim da indústria de alarmes, fechaduras, roletas, treinamento de segurança pública e privada, cancelas, muros e portões etc, chegaremos a números incalculáveis. Somente um esforço combinado de proporções igualmente incalculáveis para transformar todos os habitantes em cidadãos seria capaz de dar emprego a todo esse pessoal.

Isto não é, de maneira alguma, um argumento a favor da permanência da violência só porque é um grande negócio. Estou chamando a atenção para isso. É um grande negócio há muito tempo, e não vai ser com combate direto que se vai acabar com isso. São ações de longo prazo, parte de um planejamento de décadas que comece com educação de qualidade que vão tornar possível alguma mudança. Estou longe de querer bancar a Pollyanna aqui, pelamordedeus, mas o PAC em algumas favelas do Rio - com maciça inscrição de moradores locais para trabalhar nas obras, apesar das ameaças dos traficantes - parece apontar neste sentido. De alguma maneira, essas pessoas estão passando a acreditar que a filha da putice pode não ser o único negócio possível, por mais que, possivelmente, haja filha da putice na própria confecção desses projetos. A verdade é que fico dividido entre o pessimismo completo, bancando a hiena Hardy - "isso não vai dar certo..." - e o tímido otimismo: "bom, mesmo que de forma capenga, alguma coisa está começando em algum lugar". E você, o que acha?