sábado, 22 de maio de 2010

o lucro é meu, a perda é nossa

Mais uma vez, vivemos recentemente um episódio de "socorro financeiro" a um país, com a ajuda do muy amigo FMI.
A vida é assim. Nos ciclos de prosperidade as pessoas ricas enriquecem e as pobres permanecem pobres, no mínimo tão pobres como antes. Quando chega a crise - que sempre chega, como já apontava Carlos Marques no século XIX - monta-se um "esquema de socorro" com valores estratosféricos para salvar o pessoal que fez caquinha com o dinheiro de todos. E então vêm medidas como redução de salários, aumento de impostos, corte de benefícios e investimentos, etc.
E neguinho acha isso normal? Ninguém vê que existe algo intrinsecamente ERRADO com isso? Costumo ter restrições em usar essa palavra carregada de juízo de valor, mas isto é ERRADO, e ponto!
A lógica do liberalismo deixa o pessoal fazer o que quiser com o dinheiro de todos, ganhando sempre toneladas com isso, e quando a casa cai, TODOS devem pagar por isso. Fala sério! Ninguém vai se indignar com esta situação? Vamos achar que é normal? O camarada dá um passo maior que a perna e por isso todo o resto, que nada tem a ver com isso tem de conviver com "medidas de austeridade", ou seja, novos mecanismos de transferência de recursos do pobre para os ricos, ou para o Estado, o mesmo que não soube controlar os investidores privados, que fingem assumir os riscos do processo capitalista. O lance é que eles só assumem os riscos do lucro, porque o risco do prejuízo é para todos.
E o pior é ler que "se a Grécia quebrar, o impacto geral na economia da Europa será muito pequeno". Beleza, vai dizer isso pro Seu Konstantin Stephanopoulos, que perdeu o emprego e ainda tem de pagar mais impostos, não vai conseguir arrumar outro tabalho nem receber o seguro-desemprego que esperava.
Muito numa boa, já deu de liberalismo radical. É preciso que haja, concretamente, mecanismos de controle para esse laissez-faire generalizado que não para de dar provas de que não funciona para o bem de todos.

sábado, 3 de abril de 2010

A Páscoa é gozada

A Páscoa é gozada, quando observada do ponto de vista antropológico.
A mesma malta ensandecida que saía às ruas há mais ou menos um mês atrás, semi-nua e completamente alcolizada, gritando refrões tribais monossilábicos, e segurando nas mãos pedaços de metal, talvez alumínio; é a mesma que lota as ruas e calçadas das cidades ditas civilizadas, numa correria desenfreada e alucinante. Para quê? Para comprar. A mesma coisa? A resposta é não.
A turba que pode ser vista nas ruas de nosso país divide-se em dois grupos distintos e antagônicos quanto ao objetivo. O primeiro deles é formado pelo conjunto de pessoas interessadas em balancear a alimentação e incluir nas mesas de jantar de suas famílias um cardápio equilibrado, rico em vitaminas e sais minerais. O segundo grupo procura objetos quase sagrados, praticamente um fetiche, como diria Lévi-Strauss, que se resume a um composto de cacau e gordura em formato oval embrulhado num envólucro plástico com motivos de desenhos animados e personagens de filmes.
São os Caçadores de Peixes e Caçadores de Ovos. Por que fazem isso? Eles não sabem. Por que compramcompramcompram? Eles não sabem. O que isto tem a ver com a Páscoa? Eles não sabem. O que é Páscoa? Eles não sabem. Por que eu me preocupo com isto? Eles não sabem.

sábado, 20 de março de 2010

Nobel... pfff.

Leio agora que o tão aclamado presidente estadunidense Barack Obama autorizou o envio de 30 mil soldados ao Afeganistão em dezembro, dos quais 2500 já se encaminharam no dia de ontem. Ao mesmo tempo, enviou duas caixas de cerveja ao primeiro-ministro canadense. Deve ser por esse tipo de gentileza que ele foi escolhido para ganhar o Nobel da Paz. Ora, este prêmio é ridículo, bem como são ridículos seus organizadores e são mais ridículos ainda aqueles que acompanham a premiação e aplaudem os vencedores. Façam-me o favor: Obama ganhar Nobel da Paz? Será que a reserva de vagas da UERJ chegou em Estocolomo? A minha avó merecia mais este prêmio do que o chefão da USAF, responsável por jogar bombas na cabeça dos outros. Isto é paz? E o que é guerra então?
Precisamos parar de hipocrisia e lembrar que o verdadeiro terrorista do mundo são os Estados Unidos da América, cuja bandeira aparece em 7 de cada 10 camisetas que se vê no peito dos patrióticos brasileiros. Palhaçada! Esta premiação coloca em descrédito, na minha opinião, todas as premiações em todas as categorias em todos os tempos deste Nobel, que não passa de uma reunião de ricaços sem ter o que fazer que se reúnem para vagabundear juntos e, depois de muita birita, resolvem distribuir prêmios estapafúrdios para personalidades duvidosas.

domingo, 14 de março de 2010

Frases de efeito

"A prática é o critério da verdade".

Vladimir Ilitch Ulianov

Filosofia de domingo

Pobre tem CPF; rico tem CNPJ.
Depois que geramos um filho, ele começa a andar, falar e fazer todo tipo de gracinhas. Logo somos assaltados pelas dúvidas quanto ao seu futuro. O que ele vai ser quando crescer? Esta, certamente, é a pergunta que mais forte ressoa na consciência dos pais.
Imediatamente, no entanto, ponho-me a pensar no que nós, pais, somos, enquanto já crescidos. Isto de "ser" não é uma coisa assim tão fácil. No mais das vezes não somos nada. Melhor dizendo, não somos muita coisa.
Geralmente temos sonho de cursar uma faculdade e adquirir uma profissão. Teremos um título, um canudo, e, daí, seremos respeitados. Isto quando jovens. Conforme envelhecemos, descobrimos que não é bem assim. Sob este ponto de vista, especificamente, minha esposa e eu não somos nada. Não sendo nada, não somos ninguém.
Entretanto, não nos apercebemos de que somos coisas muito mais importantes. Certa noite, enquanto dialogávamos a este respeito, disse à minha mulher: "Você é mãe, filha, esposa, sobrinha, irmã, amiga, vizinha, colega. São relações que guardam em si um nível de significado quiçá mais elevado do que o de um diploma. Ser uma mãe dedicada, uma filha respeitosa, uma esposa companheira, sem sombra de dúvida, representa mais honra do que ser um médico charlatão, um advogado mentiroso, um engenheiro corrupto ou um Senador da República.
Deter conhecimentos técnicos ou científicos é privilégio de poucos. Sem embargo, cultivar relações de amizade ou parentesco fundadas na honestidade, amor, respeito, é prerrogativa de raros.

sábado, 13 de março de 2010

Dicas de português

O professor Ladislau Ferreira está de volta!

O que está correto: "eu vou te mostrar" ou "eu vou te a mostrar"? Ora, é evidente que a segunda se aproxima mais da norma culta. Senão, vejamos.
Sabemos que o verbo "mostrar" apresenta uma transitividade não apenas direta como também indireta. Quem mostra, mostra alguma coisa a alguém. A partícula "a" no segundo exemplo nada mais é do que a preposição exigida pela regência do verbo em questão. O que acontece é um deslocamento perfeitamente cabível em se tratando de sintaxe de regência.