quinta-feira, 22 de maio de 2008

Pavlov e o Trânsito (continuação)

A buzina, aliás, tem um papel curioso no trânsito. Geralmente acontece assim: um evento simples qualquer paralisa temporariamente o trânsito, algo como um caminhão de lixo parado, uma carreta manobrando, ou uma dessas retenções sem causa aparente. Os carros vão então se enfileirando, um atrás do outro. Isso aviva, nas profundezas da mente complexa de um determinado ser humano, uma crença de que sua buzina tem poderes extraordinários; se ele buzinar por tempo suficiente e bem forte, os carros da frente, repentinamente despertados do transe da ignorância, vão se movimentar, tocados pelo som poderoso da buzina mágica. Estavam todos parados apenas aguardando que algum iluminado assumisse a liderança de seus espíritos simplórios, e lhes indicasse o caminho da verdade, que é andar para a frente numa via pública da América do Sul, por exemplo, em direção à Barra da Tijuca.

O único resultado prático disso é tornar ainda mais insuportável uma situação já estressante por si mesma, majorando o papel da poluição sonora no vaso de tensão que já transborda. É o elemento humano cumprindo seu papel de infernizar os outros.

Pavlov e o Trânsito

Ninguém duvida que a maneira como o tráfego é gerido no Rio de Janeiro é péssima. As autoridades não fazem o menor planejamento no transporte de massa, deixam a coisa correr solta nas principais vias, sinais são dessincronizados, em quase toda a cidade, resumindo, o trânsito é caótico.

Abre parêntese. Mas dessa ladainha de reclamar das autoridades eu estou farto. Quando vejo vagabundo se queixando que nenhum político presta, que o governo é uma merda, penso, porra, esse cara - representado pela partícula indeterminadora de sujeito "vagabundo" - pensa que essas autoridades vêm de onde? Da Lua? Nada, são gente como a gente, e todos fazem parte disso. Fecha parêntese.

Apesar da inércia das autoridades, um pouco mais, quer dizer, alguma educação ia ajudar muito no dia-a-dia de todos. Sabe, o bom e velho trinômio comlicença-porfavor-obrigado? Neguinho só quer saber do seu próprio, na hora, os outros e o futuro que se f**. Pára em fila dupla, estaciona em local proibido, carga e descarga em horários impróprios etc.

Existe um fenômeno curioso - agora chegamos ao cientista russo mencionado no título - quando os carros param antes de um sinal vermelho. Aparece a luz verde e, ato contínuo, os carros atrás do primeiro tocam a buzina. É um reflexo condicionado. Se toda vez que se der comida a um cão se tocar um sino, quando ele ouvir o sino ele já começa a salivar. Teste isso em casa, com um familiar ou parente seu que dirija no Rio de Janeiro: acenda uma luz verde em frente a sua cara e ele vai, por reflexo condicionado, tentar tocar uma buzina.